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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Crítica: Amor em Jogo


Tema importante, mas enredo fraco



Longa israelense transita entre homossexualidade, futebol e amor, mas com uma trama fraca, pouco engraçada ou romântica

Em um contexto onde temas como sexualidade são cada vez mais importantes de serem abordados em sociedade, a comédia romântica israelense Amor em Jogo trata da homossexualidade em um país predominantemente conservador. O longa, estrelado por Gal Gadot (a famosa Mulher Maravilha) e Oshri Cohen, conta a história de Ami Shushan (Oshri Cohen), um jogador de futebol que vive na conservadora cidade de Jerusalém. Após flertar com Mirit (Gal Gadot), namorada de um grande mafioso da região, o Sr. Bukovza (Eli Finish), é obrigado pelo criminoso a se assumir gay publicamente. A repercussão de seu anúncio não é bem vista, porém, ao longo da trama, acaba se tornando uma importante figura para a comunidade LGBT+. 


Ami Shushan se assume gay bem no começo da trama e todo o filme vai trabalhar em torno disso e do romance que ele desenvolve às escondidas com Mirit. Romance esse que é fraco e sem química. Por ser um jogador de futebol, esporte por natureza machista,  e ainda por cima em Jerusalém, ao se assumir homossexual, o craque é rejeitado pelos técnicos, colegas de time e até mesmo torcedores, sentindo na pele o que é a homofobia e com isso desconstruindo seus próprios preconceitos ao longo do filme. 



Por ter sido produzido em 2014, mas lançado em 2019, é um pouco problemático em alguns pontos, essencialmente na estereotipação dos gays, lésbicas, travestis e trans, em algumas piadas ou até mesmo na retratação física dos personagens. Mas, por se tratar de um filme feito em Israel, não é tanto. Outro ponto negativo é que não chega a ser muito engraçado em nenhum momento. Há algumas piadas dignas de uma ou outra risada, mas nada muito divertido. Assim como na parte do romance, como já dito, não encanta muito.

O filme tinha tudo para ser muito bom, levando-se em conta a temática abordada e sua relevância, mas, apenas isso não sustentou a trama. Tem um enredo bastante fraco, não há nada de incrível ou mesmo muito engraçado. Se tratando de uma comédia romântica, deixa bastante a desejar. Mas, por ser um filme israelense, e por tratar de um tema tão polêmico para grande parte do povo local, torna-se relevante, considerando-se o sistema religioso e preconceitos enraizados na população. 

Direção: Shay Kanot

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Crítica: Coringa


Malvado ou apenas um ser humano?


Segundo o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Culturalmente, ainda é bem forte a ideia de que o ser humano, ao sair do estado de bondade nato, torna-se um indivíduo bom ou mau. A partir desta perspectiva é que se constroem heróis e vilões. No entanto, a nova história sobre a origem do grande inimigo do Batman, dirigido por Todd Phillips e roteirizado por Scott Silver, tem uma pegada humanizada muito profunda, pois transmite a mensagem de que todos são o que são por algum motivo. Coringa tem a dizer que o homem apresenta uma dualidade de emoções dentro de si que pode oscilar entre ternura e ódio, mas  isso não o torna bom ou mau, apenas humano.
O longa-metragem conta a trajetória árdua de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) até ele se tornar no grande criminoso Coringa. Um homem infeliz que, ironicamente, tirava seu sustento da arte de trazer a alegria com sua fantasia de palhaço. Apesar de pouco talentoso, seu sonho, desde a infância, era ser um grande humorista. Arthur sofria de um problema neurológico que provocava crises de risos involuntárias e, desde sempre, isso se manifestou como uma barreira para um bom convívio social e o fazia sofrer com os constantes ataques de bullying. Após o drama do dia a dia, Arthur ainda tinha a incumbência de cuidar da mãe (Frances Conroy) doente e não poupava carinho e cuidado para com ela.

Coringa não faz apologia à violência, mas, a forma como é conduzida a narrativa, é capaz de provocar no espectador um sentimento que legitima as ações insanas de Arthur; um homem com distúrbios psíquicos que carregava no próprio corpo as marcas da intolerância, do desrespeito e da falta de amor ao próximo. A atuação perfeita de Joaquin Phoenix, em conjunto com um roteiro bem trabalhado, garantiu uma forte  criação de empatia. Os primeiros planos e as cores predominantemente escuras foram fundamentais para adentrar nas emoções de Arthur, sentir suas angústias e ser solidário às suas dores.  O longa, em paralelo, levanta uma crítica ao sistema político local que, arbitrariamente, corta as verbas para serviços sociais. Consequentemente, esta ação é o que contribui para a transformação de Arthur em Coringa.
A infância é um dos momentos mais importantes e delicados da vida, pois é a partir das experiências vividas nela que se determina a personalidade do adulto. Com essa ideia de que o mundo está polarizado entre o bem e o mal, a figura do vilão é constantemente desumanizada sendo desconsideradas as experiências passadas. No entanto, Coringa traz o lado sensível da história. Embora as ações de Arthur sejam moralmente inaceitáveis, é possível compreendê-las e, em vez de se formar um sentimento de ódio pelo personagem, nasce uma grande empatia pelo vilão. Com uma forte análise psicológica e com uma crítica interessante ao sistema, é um filme que precisa ser assistido e, sem dúvidas, é um dos melhores filmes do ano.

Direção: Todd Phillips


quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Crítica: Coringa

Insano, surpreende e atual

Coringa tem tudo o que um filme precisa


Dirigido por Todd Philips e estrelado pelo brilhante Joaquin Phoenix, o longa-metragem  se destaca por não ter nenhuma das características dos filmes de herói atuais. Nada de CGI (efeitos especiais), roteiro previsível, cores vivas ou até mesmo o logo da DC no início. O filme, que acompanha o vilão mais famoso do mundo, trilha por outro caminho ao acompanhar a trajetória do comediante fracassado Arthur Flex (Joaquin Phoenix), excluído socialmente por apresentar problemas psicológicos desde a infância, até ele se tornar Coringa, o maior inimigo do Batman.
Falando em Batman, o filme não poupa referências ao Homem Morcego e, do começo ao fim, toda a família Wayne, incluindo o próprio Bruce Wayne criança interpretado por Dante Pereira, é peça chave que ajuda a transformar o Coringa no que ele é. A formação da personalidade do vilão também conta com a influência do apresentador de TV Murray Franklin (Roberto de Niro), dono de um programa de auditório de maior sucesso de Gotham City com grande influência na opinião dos espectadores e, consequentemente, nos eventos que acontecem na cidade. 
É perceptível, ao longo do filme, a forma como Coringa reage aos fatos negativos que acontecem em sua vida pessoal somada à insatisfação provocada por questões sociais como o desemprego e a desigualdade social. Tudo isso graças ao excelente roteiro de Todd Phillips, acompanhado de Scott Silver, e à brilhante atuação de Joaquin Phoenix. O ator põe no personagem uma carga emocional tão grande que facilmente desperta a empatia no espectador provocando uma forte sensação de angústia.
Sophie Dumond, interpretada por Zazie Beetz, mais conhecida pela série Atlanta, é uma personagem que também merece destaque pela ótima atuação e, principalmente, pela forma como reage às “loucuras” de Coringa. Atitudes bastante previsíveis para quem não entende e se pergunta “como alguém poderia ser tão louco assim?” Mas, não é só de loucuras vive o Coringa de Joaquin Phoenix. As alternâncias de cores mostram as mudanças de emoções de maneira perfeita. Em momentos felizes, há o predomínio de cores quentes. Já nos momentos de sanidade e desespero, as cores escuras tomam conta.
As questões de pobreza, de cortes de verbas em programas sociais e promessas políticas vazias, dão base para tudo que o filme constrói ao longo de suas duas horas de duração e faz deste o Coringa mais atual e realista já feito. Os meios necessários para mudar o sistema podem e devem ser questionados, afinal, a forma como o Coringa lida com as adversidades não deve ser usado como exemplo, como teme as autoridades policiais nos EUA. Mas, todo este cenário de caos, violência gratuita e de mortes assustadoras traz uma ambientação única ao espectador. Todos os aspectos do filme é bem cuidados e trata de questões que estão muito em pauta neste ano como desigualdade social, má distribuição de renda, fome, cortes em políticas assistenciais e um apoio forte e exacerbado a política da autodefesa com um armamento em casa.
Coringa tem potencial de iniciar uma nova fase nos filmes de herói aproveitando um lado mais realista e menos utópico. E não apenas isso: ele deixa qualquer um arrepiado principalmente nas cenas das mortes de personagens muito importantes que acontece em momento muito inesperados. Por ser algo de surpresa, ele choca, causa impacto e alguns podem até ficar sem ar ainda mais nos 20 minutos finais. Tudo isso é feito com um roteiro bem amarrado mas que deixa pontas soltas para uma já confirmada sequência.


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Crítica: O Homem Ideal?

Uma comédia apática

Divulgação
Longa aposta em humor com base na ridicularização do personagem
Dirigido e roteirizado por Carles Alberola, O Homem Ideal? gira em torno de um encontro às cegas que Jaume (Alfred Picó) e Raquel (Cristina García), casal supostamente perfeito, arranja para Ruben (Carles Alberola), um amigo de longa data. Com a chegada de Pilar (Rebeca Valls), a escolhida para fisgar o coração do solteirão, as coisas se modificam bastante e se instala no ar um clima de tensão. 
Solteiro e divorciado há dois anos, Rubens é um escritor e professor universitário de meia idade ansioso que não se considera talentoso o suficiente para ter uma carreira de sucesso, tampouco para arrumar uma namorada. Ele vê o relacionamento de seus amigos como perfeito, mas logo no começo da trama, Jaume vai confessar algumas verdades que desmascaram essa aparência de perfeição. 
Divulgação
Pilar é irmã de Raquel, mas uma é o oposto da outra. Raquel é uma quarentona que oscila entre seu amor por Jaume e Ruben. Ela se acha velha demais e é insegura com relação à sua aparência. Já Pilar, é uma jovem de 28 anos que apesar de ser muito bonita e sensual, apresenta um quadro de depressão. Em um primeiro momento a moça é retratada como fútil, mas após um tempo, percebe-se que é bastante inteligente.
O ápice do longa-metragem é o tom humorístico em torno da ridicularização de Ruben, que constantemente ironiza a si mesmo, suas inseguranças e suas crises existenciais. Com algumas pitadas de humor vindas de Ruben, o filme não chega a ser tão engraçado, além de não despertar no público nenhuma emoção.  É um filme apático, com aparência de peça gravada, que acontece, basicamente, na casa de Ruben, alternando-se entre as salas de estar e de jantar. E muitas vezes é filmado próximo ao rosto dos personagens, utilizando recursos de foque e desfoque dos fundos ou personagens, o que enfatiza as expressões deles. 
Com apenas quatro personagens, que têm características diferentes, mas que os conectam entre si, O Homem Ideal? trata de transtornos psicológicos, lealdade e infidelidade, amizade e amor. Apesar de divertido em alguns pontos e reflexivo em outros, não há grandes elementos que prendam o espectador. 

Direção: Carles Alberola


quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Crítica: Voando Alto



Uma Andorinha só não faz verão


Animação aborda o desafio de se viver com as diferenças e reforça a importância da união

Voando Alto evidencia, desde o início, a grande rivalidade existente entre Gaivotas e Andorinhas. As duas espécies vivem à beira da praia, mas cada uma em um lado diferente da rocha. O pequeno Manou, um filhote de andorinha, é adotado por um casal de gaivotas e cresce acreditando ser um deles. Apesar de ser muito amado pela família adotiva, ele tinha dificuldades para ser aceito do jeito que realmente é. O passarinho vivia um dilema diário: voar, nadar, pescar e comer como uma gaivota sem obter muito sucesso.

A situação desanda quando Manou não consegue lutar contra os ratos, perde os ovos do ninho e é expulso da comunidade. Ele conhece Parcival, uma ave esquisita que se deduz que seja um Peru (o filme não deixa claro), e o trio de andorinhas formado por Yusuf, Poncho e a sábia Kalifa, que lidera o grupo. A partir desta união, participam de muitas aventuras e Manou consegue dar a volta por cima e mostrar o seu grande valor como um verdadeiro herói.
Uma importante reflexão é posta em pauta: o desafio de conviver com as diferenças. A animação traz espécies diferentes, cada uma com suas particularidades e mostra o quanto é difícil aceitar o outro como ele realmente é. Mas, acima de tudo, nos mostra também que quando há respeito e amor ao próximo, tudo fica mais fácil. Pode soar meio clichê, mas Voando Alto tem a dizer que a união faz a força e que aquela história de que uma andorinha só não faz verão é bem verdadeira.
Apesar de previsível e de algumas falhas com cortes abruptos, a animação não é um fracasso. É agradável e consegue cumprir bem o objetivo de entreter os pequenos.



Direção: Christian Haas e Andrea Block


quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Crítica: No Coração do Mundo


Nem heróis, nem vilões: apenas seres humanos

Sem reforçar estereótipos, longa aposta numa visão humanista


Muitas construções familiares brasileiras, principalmente nas áreas periféricas, estão longe de ser um comercial da margarina. O abandono paterno não é estranho e, simultaneamente, a figura da mulher que dá duro para sustentar a sua família é muito comum. Na verdade essas guerreiras, que muitos enaltecem, são mulheres cansadas e sobrecarregadas. O drama dirigido por Gabriel Martins e Maurício Martins ilustra de forma bastante realista este cenário.
Na periferia de Contagem, Minas Gerais, Marcos (Leo Pyrata) mora com a mãe e com a irmã mais nova. Enquanto as duas trabalham e sustentam a casa, o rapaz vive dos pequenos delitos que comete. No entanto, sua amiga Selma (Grace Passô) surge com uma proposta bastante tentadora de um assalto que pode mudar suas vidas para sempre. Mas, para dar certo precisaria da ajuda de Ana (Kelly Crifer), namorada de Marcos, que vive uma vida honesta.
No Coração do Mundo não é nada previsível e é conduzido por momentos de suspense. A ambientação é real e os diálogos entre os personagens fluem de forma bastante natural. Com a predominância de primeiros planos, é possível criar uma relação de empatia com cada personagem. O elenco teve uma excelente atuação e contou com a presença de Mc Carol que, de forma autêntica, deixa registrada sua primeira atuação nas telonas.
O drama tem um caráter bastante naturalista e traz os problemas dos personagens de forma nua e crua. Em No Coração do Mundo não existe mocinho ou vilão, mas sim seres humanos que cometem erros, regeneram-se ou até mesmo tropeçam e se desviam do caminho íntegro por onde costumavam andar. O que os personagens têm em comum é ambição por um futuro melhor sem passar por apertos. Cada um à sua maneira busca o que é melhor para si. Não há a intenção de levantar julgamentos, tampouco de fazer apologia à criminalidade. Cada escolha que se faz vem acompanhada pelas consequências, que na vida do crime não são as melhores.
No Coração do Mundo é um grande acerto do cinema nacional. Com um caráter humanista, o longa-metragem não reforça estereótipos. É um filme excelente não só pelo modo como foi construído, mas pela forte reflexão que carrega.

Direção: Gabriel Martins e Maurício Martins