quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Crítica: No Coração do Mundo


Nem heróis, nem vilões: apenas seres humanos

Sem reforçar estereótipos, longa aposta numa visão humanista


Muitas construções familiares brasileiras, principalmente nas áreas periféricas, estão longe de ser um comercial da margarina. O abandono paterno não é estranho e, simultaneamente, a figura da mulher que dá duro para sustentar a sua família é muito comum. Na verdade essas guerreiras, que muitos enaltecem, são mulheres cansadas e sobrecarregadas. O drama dirigido por Gabriel Martins e Maurício Martins ilustra de forma bastante realista este cenário.
Na periferia de Contagem, Minas Gerais, Marcos (Leo Pyrata) mora com a mãe e com a irmã mais nova. Enquanto as duas trabalham e sustentam a casa, o rapaz vive dos pequenos delitos que comete. No entanto, sua amiga Selma (Grace Passô) surge com uma proposta bastante tentadora de um assalto que pode mudar suas vidas para sempre. Mas, para dar certo precisaria da ajuda de Ana (Kelly Crifer), namorada de Marcos, que vive uma vida honesta.
No Coração do Mundo não é nada previsível e é conduzido por momentos de suspense. A ambientação é real e os diálogos entre os personagens fluem de forma bastante natural. Com a predominância de primeiros planos, é possível criar uma relação de empatia com cada personagem. O elenco teve uma excelente atuação e contou com a presença de Mc Carol que, de forma autêntica, deixa registrada sua primeira atuação nas telonas.
O drama tem um caráter bastante naturalista e traz os problemas dos personagens de forma nua e crua. Em No Coração do Mundo não existe mocinho ou vilão, mas sim seres humanos que cometem erros, regeneram-se ou até mesmo tropeçam e se desviam do caminho íntegro por onde costumavam andar. O que os personagens têm em comum é ambição por um futuro melhor sem passar por apertos. Cada um à sua maneira busca o que é melhor para si. Não há a intenção de levantar julgamentos, tampouco de fazer apologia à criminalidade. Cada escolha que se faz vem acompanhada pelas consequências, que na vida do crime não são as melhores.
No Coração do Mundo é um grande acerto do cinema nacional. Com um caráter humanista, o longa-metragem não reforça estereótipos. É um filme excelente não só pelo modo como foi construído, mas pela forte reflexão que carrega.

Direção: Gabriel Martins e Maurício Martins


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