Malvado ou apenas um ser humano?
Segundo
o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, o homem nasce bom, mas a sociedade o
corrompe. Culturalmente, ainda é bem forte a ideia de que o ser humano, ao sair
do estado de bondade nato, torna-se um indivíduo bom ou mau. A partir desta
perspectiva é que se constroem heróis e vilões. No entanto, a nova história
sobre a origem do grande inimigo do Batman,
dirigido por Todd Phillips e
roteirizado por Scott Silver, tem
uma pegada humanizada muito profunda, pois transmite a mensagem de que
todos são o que são por algum motivo. Coringa tem a dizer que o homem
apresenta uma dualidade de emoções dentro de si que pode oscilar entre ternura
e ódio, mas isso não o torna bom ou mau, apenas humano.
O
longa-metragem conta a trajetória árdua de Arthur
Fleck (Joaquin Phoenix) até ele se tornar no grande criminoso Coringa. Um homem infeliz que,
ironicamente, tirava seu sustento da arte de trazer a alegria com sua fantasia
de palhaço. Apesar de pouco talentoso, seu sonho, desde a infância, era ser um
grande humorista. Arthur sofria de
um problema neurológico que provocava crises de risos involuntárias e, desde
sempre, isso se manifestou como uma barreira para um bom convívio social e o
fazia sofrer com os constantes ataques de bullying.
Após o drama do dia a dia, Arthur ainda
tinha a incumbência de cuidar da mãe (Frances Conroy) doente e não poupava
carinho e cuidado para com ela.
Coringa não faz apologia à violência, mas, a forma
como é conduzida a narrativa, é capaz de provocar no espectador um sentimento que legitima
as ações insanas de Arthur; um homem
com distúrbios psíquicos que carregava no próprio corpo as marcas da
intolerância, do desrespeito e da falta de amor ao próximo. A atuação perfeita
de Joaquin Phoenix, em conjunto com
um roteiro bem trabalhado, garantiu uma forte criação de empatia. Os
primeiros planos e as cores predominantemente escuras foram fundamentais para
adentrar nas emoções de Arthur,
sentir suas angústias e ser solidário às suas dores. O longa, em paralelo, levanta uma crítica ao
sistema político local que, arbitrariamente, corta as verbas para serviços sociais.
Consequentemente, esta ação é o que contribui para a transformação de Arthur em Coringa.
A
infância é um dos momentos mais importantes e delicados da vida, pois é a
partir das experiências vividas nela que se determina a personalidade do
adulto. Com essa ideia de que o mundo está polarizado entre o bem e o mal, a
figura do vilão é constantemente desumanizada sendo desconsideradas as
experiências passadas. No entanto, Coringa traz o lado sensível da
história. Embora as ações de Arthur sejam
moralmente inaceitáveis, é possível compreendê-las e, em vez de se formar um
sentimento de ódio pelo personagem, nasce uma grande empatia pelo vilão. Com uma
forte análise psicológica e com uma crítica interessante ao sistema, é um filme
que precisa ser assistido e, sem dúvidas, é um dos melhores filmes do ano.
Direção:
Todd Phillips
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