sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Crítica: Coringa


Malvado ou apenas um ser humano?


Segundo o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Culturalmente, ainda é bem forte a ideia de que o ser humano, ao sair do estado de bondade nato, torna-se um indivíduo bom ou mau. A partir desta perspectiva é que se constroem heróis e vilões. No entanto, a nova história sobre a origem do grande inimigo do Batman, dirigido por Todd Phillips e roteirizado por Scott Silver, tem uma pegada humanizada muito profunda, pois transmite a mensagem de que todos são o que são por algum motivo. Coringa tem a dizer que o homem apresenta uma dualidade de emoções dentro de si que pode oscilar entre ternura e ódio, mas  isso não o torna bom ou mau, apenas humano.
O longa-metragem conta a trajetória árdua de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) até ele se tornar no grande criminoso Coringa. Um homem infeliz que, ironicamente, tirava seu sustento da arte de trazer a alegria com sua fantasia de palhaço. Apesar de pouco talentoso, seu sonho, desde a infância, era ser um grande humorista. Arthur sofria de um problema neurológico que provocava crises de risos involuntárias e, desde sempre, isso se manifestou como uma barreira para um bom convívio social e o fazia sofrer com os constantes ataques de bullying. Após o drama do dia a dia, Arthur ainda tinha a incumbência de cuidar da mãe (Frances Conroy) doente e não poupava carinho e cuidado para com ela.

Coringa não faz apologia à violência, mas, a forma como é conduzida a narrativa, é capaz de provocar no espectador um sentimento que legitima as ações insanas de Arthur; um homem com distúrbios psíquicos que carregava no próprio corpo as marcas da intolerância, do desrespeito e da falta de amor ao próximo. A atuação perfeita de Joaquin Phoenix, em conjunto com um roteiro bem trabalhado, garantiu uma forte  criação de empatia. Os primeiros planos e as cores predominantemente escuras foram fundamentais para adentrar nas emoções de Arthur, sentir suas angústias e ser solidário às suas dores.  O longa, em paralelo, levanta uma crítica ao sistema político local que, arbitrariamente, corta as verbas para serviços sociais. Consequentemente, esta ação é o que contribui para a transformação de Arthur em Coringa.
A infância é um dos momentos mais importantes e delicados da vida, pois é a partir das experiências vividas nela que se determina a personalidade do adulto. Com essa ideia de que o mundo está polarizado entre o bem e o mal, a figura do vilão é constantemente desumanizada sendo desconsideradas as experiências passadas. No entanto, Coringa traz o lado sensível da história. Embora as ações de Arthur sejam moralmente inaceitáveis, é possível compreendê-las e, em vez de se formar um sentimento de ódio pelo personagem, nasce uma grande empatia pelo vilão. Com uma forte análise psicológica e com uma crítica interessante ao sistema, é um filme que precisa ser assistido e, sem dúvidas, é um dos melhores filmes do ano.

Direção: Todd Phillips


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