quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Crítica: Coringa

Insano, surpreende e atual

Coringa tem tudo o que um filme precisa


Dirigido por Todd Philips e estrelado pelo brilhante Joaquin Phoenix, o longa-metragem  se destaca por não ter nenhuma das características dos filmes de herói atuais. Nada de CGI (efeitos especiais), roteiro previsível, cores vivas ou até mesmo o logo da DC no início. O filme, que acompanha o vilão mais famoso do mundo, trilha por outro caminho ao acompanhar a trajetória do comediante fracassado Arthur Flex (Joaquin Phoenix), excluído socialmente por apresentar problemas psicológicos desde a infância, até ele se tornar Coringa, o maior inimigo do Batman.
Falando em Batman, o filme não poupa referências ao Homem Morcego e, do começo ao fim, toda a família Wayne, incluindo o próprio Bruce Wayne criança interpretado por Dante Pereira, é peça chave que ajuda a transformar o Coringa no que ele é. A formação da personalidade do vilão também conta com a influência do apresentador de TV Murray Franklin (Roberto de Niro), dono de um programa de auditório de maior sucesso de Gotham City com grande influência na opinião dos espectadores e, consequentemente, nos eventos que acontecem na cidade. 
É perceptível, ao longo do filme, a forma como Coringa reage aos fatos negativos que acontecem em sua vida pessoal somada à insatisfação provocada por questões sociais como o desemprego e a desigualdade social. Tudo isso graças ao excelente roteiro de Todd Phillips, acompanhado de Scott Silver, e à brilhante atuação de Joaquin Phoenix. O ator põe no personagem uma carga emocional tão grande que facilmente desperta a empatia no espectador provocando uma forte sensação de angústia.
Sophie Dumond, interpretada por Zazie Beetz, mais conhecida pela série Atlanta, é uma personagem que também merece destaque pela ótima atuação e, principalmente, pela forma como reage às “loucuras” de Coringa. Atitudes bastante previsíveis para quem não entende e se pergunta “como alguém poderia ser tão louco assim?” Mas, não é só de loucuras vive o Coringa de Joaquin Phoenix. As alternâncias de cores mostram as mudanças de emoções de maneira perfeita. Em momentos felizes, há o predomínio de cores quentes. Já nos momentos de sanidade e desespero, as cores escuras tomam conta.
As questões de pobreza, de cortes de verbas em programas sociais e promessas políticas vazias, dão base para tudo que o filme constrói ao longo de suas duas horas de duração e faz deste o Coringa mais atual e realista já feito. Os meios necessários para mudar o sistema podem e devem ser questionados, afinal, a forma como o Coringa lida com as adversidades não deve ser usado como exemplo, como teme as autoridades policiais nos EUA. Mas, todo este cenário de caos, violência gratuita e de mortes assustadoras traz uma ambientação única ao espectador. Todos os aspectos do filme é bem cuidados e trata de questões que estão muito em pauta neste ano como desigualdade social, má distribuição de renda, fome, cortes em políticas assistenciais e um apoio forte e exacerbado a política da autodefesa com um armamento em casa.
Coringa tem potencial de iniciar uma nova fase nos filmes de herói aproveitando um lado mais realista e menos utópico. E não apenas isso: ele deixa qualquer um arrepiado principalmente nas cenas das mortes de personagens muito importantes que acontece em momento muito inesperados. Por ser algo de surpresa, ele choca, causa impacto e alguns podem até ficar sem ar ainda mais nos 20 minutos finais. Tudo isso é feito com um roteiro bem amarrado mas que deixa pontas soltas para uma já confirmada sequência.


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