Insano, surpreende e atual
Coringa tem tudo o que um filme precisa
Dirigido por
Todd Philips e estrelado pelo brilhante Joaquin Phoenix, o
longa-metragem se destaca por não ter nenhuma das características dos
filmes de herói atuais. Nada de CGI (efeitos especiais), roteiro previsível,
cores vivas ou até mesmo o logo da DC no início. O filme, que acompanha o vilão
mais famoso do mundo, trilha por outro caminho ao acompanhar a trajetória do
comediante fracassado Arthur Flex (Joaquin Phoenix), excluído
socialmente por apresentar problemas psicológicos desde a infância, até ele se
tornar Coringa, o maior inimigo do Batman.
Falando em Batman,
o filme não poupa referências ao Homem Morcego e, do começo ao fim, toda a
família Wayne, incluindo o próprio Bruce Wayne criança
interpretado por Dante Pereira, é peça chave que ajuda a transformar o Coringa
no que ele é. A formação da personalidade do vilão também conta com a
influência do apresentador de TV Murray Franklin (Roberto de Niro), dono
de um programa de auditório de maior sucesso de Gotham City com grande
influência na opinião dos espectadores e, consequentemente, nos eventos que
acontecem na cidade.
É
perceptível, ao longo do filme, a forma como Coringa reage aos fatos
negativos que acontecem em sua vida pessoal somada à insatisfação provocada por
questões sociais como o desemprego e a desigualdade social. Tudo isso graças ao
excelente roteiro de Todd Phillips, acompanhado de Scott Silver, e
à brilhante atuação de Joaquin Phoenix. O ator põe no personagem uma
carga emocional tão grande que facilmente desperta a empatia no espectador
provocando uma forte sensação de angústia.
Sophie
Dumond, interpretada por Zazie Beetz, mais conhecida pela série Atlanta, é
uma personagem que também merece destaque pela ótima atuação e, principalmente,
pela forma como reage às “loucuras” de Coringa. Atitudes bastante previsíveis
para quem não entende e se pergunta “como alguém poderia ser tão louco assim?”
Mas, não é só de loucuras vive o Coringa de Joaquin Phoenix. As
alternâncias de cores mostram as mudanças de emoções de maneira perfeita. Em
momentos felizes, há o predomínio de cores quentes. Já nos momentos de sanidade
e desespero, as cores escuras tomam conta.
As questões
de pobreza, de cortes de verbas em programas sociais e promessas políticas
vazias, dão base para tudo que o filme constrói ao longo de suas duas horas de
duração e faz deste o Coringa mais atual e realista já feito. Os meios necessários para mudar o
sistema podem e devem ser questionados, afinal, a forma como o Coringa lida com
as adversidades não deve ser usado como exemplo, como teme as autoridades
policiais nos EUA. Mas, todo este cenário de caos, violência gratuita e de
mortes assustadoras traz uma ambientação única ao espectador. Todos os aspectos
do filme é bem cuidados e trata de questões que estão muito em pauta neste ano
como desigualdade social, má distribuição de renda, fome, cortes em políticas
assistenciais e um apoio forte e exacerbado a política da autodefesa com um
armamento em casa.
Coringa tem
potencial de iniciar uma nova fase nos filmes de herói aproveitando um lado
mais realista e menos utópico. E não apenas isso: ele deixa qualquer um
arrepiado principalmente nas cenas das mortes de personagens muito importantes
que acontece em momento muito inesperados. Por ser algo de surpresa, ele choca,
causa impacto e alguns podem até ficar sem ar ainda mais nos 20 minutos finais.
Tudo isso é feito com um roteiro bem amarrado mas que deixa pontas soltas para
uma já confirmada sequência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário