quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Crítica: Legalidade

A história por trás da ditadura militar

Divulgação

Numa mistura entre ficção e documentário, Legalidade resgata a história por trás do golpe de 64 no Brasil

Histórico e documental, Legalidade foi dirigido por Zeca Brito e protagonizado por Leonardo Machado, que deu vida ao governador de esquerda Leonel Brizola. Infelizmente, o ator não pôde ver seu trabalho nas telas, pois faleceu no ano passado. O longa-metragem se passa em 1961 e conta a história do movimento, que dá nome ao filme, liderado por Brizola que mobiliza a sociedade a fim de garantir a posse de João Goulart (Fábio Rangel) à Presidência da República, após a renúncia de Jânio Quadros. Em meio à tensão política instalada no país, um triângulo amoroso se forma entre Cecília (Cleo), Tonho (José Henrique Ligabue) e Luis Carlos (Fernando Alves Pinto). 

Em um período no qual os militares queriam tomar o poder, Brizola, governador do Rio Grande do Sul, defensor da democracia e da constituição, lidera a campanha pela Legalidade, com seus discursos emblemáticos e populares. Mas, quando os militares começam a fechar as rádios em que o manifesto do governador foi lido, Brizola decide criar o próprio veículo, a rádio da Legalidade, para divulgar seus ideais ao povo. Ao mesmo tempo, os brasileiros criam o Comitê de Resistência Democrática, fazem manifestações nas ruas, criam uma música de resistência. Tudo isso impulsionados pelos discursos propagados pelo governador. 

O carisma e populismo de Brizola ficam bastante evidentes no filme. Com sua voz firme e discursos simples e diretos, buscava se aproximar do povo. O ator Leonardo Machado, em seu último trabalho, consegue dar vida ao personagem de forma bastante eficaz com sua atuação expressiva. Aliás, ponto alto do longa está nas atuações. Em Legalidade, os atores conseguem passar para o espectador as suas emoções e expressões. Um ponto interessante que merece ser destacado é o do uso de cenas reais da década de 60 em paralelo com as cenas do filme, para ilustrar os acontecimentos, como as manifestações populares. Este método garante a credibilidade dos fatos, além de trazer o público para dentro da história. 
Divulgação

O enredo funciona bem, dentro da história documental que pretendia passar. Mas um aspecto poderia ser menos enfatizado: o romance entre Cecília, jornalista do Washington Post, o antropólogo Luis Carlos, e Tonho, jornalista do Jornal Última Hora. Embora os três personagens sejam relevantes na história, sendo importantes no contexto político, a ênfase que o longa dá em seu relacionamento poderia ser menor, principalmente por se tratar de uma ficção dentro da história documental. Ao mesmo tempo, é entendido que esse romance é criado em paralelo com as cenas documentais do filme a fim de levar o espectador a uma identificação e quebrar com o conteúdo completamente histórico. Dessa forma, não é uma má ideia, talvez só tenha excedido um pouco. 

Apesar de ficcional, a história de Cecília tem como objetivo trazer à memória um passado que merece ser lembrado para que nunca mais volte a ser repetido. Blanca (Letícia Sabatella), filha da jornalista, nos anos 2000, procura informações sobre a mãe desaparecida durante a ditadura militar no Brasil. Um período triste e lamentável de nossa história em que muitos jornalistas e ativistas políticos foram perseguidos, torturados e assassinados. 
Legalidade é um filme bastante didático, pois consegue dar conta de explicar sobre um contexto importante da história do Brasil de forma clara e simples. Qualquer pessoa que assiste ao longa, ainda que não tenha conhecimento do período, consegue compreender o que aconteceu. Apesar do romance ficcional que quebra um pouco a narrativa histórica, é um filme que vale a pena ser assistido.

 Direção: Zeca Brito



Nenhum comentário:

Postar um comentário