Uma mulher muito a frente do seu tempo
Com uma forte carga dramática e um clima romântico, o filme encanta
Baseado no livro de Jennie Rooney, com o mesmo
nome, A Espiã Vermelha conta a história real de Melita
Norwood, uma espiã inglesa a serviço da KGB. Dirigido por Trevor Numm, o
filme traz Sophie Cookson e Judi Dench dando vida à genial Joan
Stanley, uma caloura de física da Universidade de Cambridge, que se
une a uma sociedade comunista estudantil no ano de 1938, mas, após mais 50
anos, é presa pelo MI5 acusada de fornecer informações confidenciais à Rússia.
A trama tem um
paralelo entre o presente e o passado de Joan e, logo de
início, é possível embarcar na história que é contada de forma bastante fluida.
Sem suspenses, A Espiã Vermelha expõe os fatos de
maneira clara, mas com aquela forte carga dramática, que impulsiona
todo o filme. Além do drama, o longa-metragem tem uma profunda pegada romântica
que, felizmente, foge do clichê.
Joan é uma
menina tímida e recatada que, ao ser convidada por Sonya (Tereza
Srbova) para assistir a uma sessão de um filme, conhece Leo
Galinch (Tom Hughes), um jovem comunista por quem se apaixona. Com
imagens em primeiríssimo plano, é possível sentir a sintonia entre o casal.
Contudo, um questionamento se faz: será que os sentimentos de Leo eram
mesmo recíprocos à sua “doce camarada”, ou o que estava em jogo eram apenas os
interesses ideológicos?
Após se formar, Joan consegue emprego
num famoso laboratório onde ajuda a construir uma bomba atômica. Num ambiente
majoritariamente masculino, era notório o desconforto da moça ao sugerir algo
que nenhum homem ainda havia pensado, subtendendo-se que as mulheres ocupavam
uma posição subalterna, sobretudo no campo intelectual. Mesmo vítima do
machismo constante e convidada a manipular uma secadora de
roupas, Joan era uma mulher com uma mente brilhante. Como ela mesma
disse, viveu à sombra de um mundo masculino de modo invisível, porém poderosa.
Com cores variantes entre tons claros e escuros, a
fotografia ficou perfeita e causou um belo impacto visual. Além disso, a
escolha cuidadosa do figurino garantiu um toque de realidade à história que se
pretendeu contar. O elenco, sem exceção, teve uma excelente atuação, houve
entrega, houve vida, houve verdade em cada personagem. As
grandiosas Sophie Cookson e Judi Dench, que protagonizaram a trama, foram
perfeitas em cada expressão e detalhe.
Apesar de as cenas românticas entre Joan e Leo e,
posteriormente, entre ela e Max (Stephen
Campbell Moore) terem trazido um ar bem refrescante, o longa
poderia ter dado mais profundidade à história de uma mulher que participou da
construção da bomba atômica e “traiu” a própria pátria para proteger o mundo.
Contudo, independentemente da forma que foi escolhida pra relatar a vida de uma
mulher incrível e muito a frente do seu tempo, A Espiã Vermelha tem
seu imenso valor.
Direção:
Trevor Nunn
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