quinta-feira, 16 de maio de 2019

Crítica: A Espiã Vermelha

Uma mulher muito a frente do seu tempo


Com uma forte carga dramática e um clima romântico, o filme encanta


Baseado no livro de Jennie Rooney, com o mesmo nome, A Espiã Vermelha conta a história real de Melita Norwood, uma espiã inglesa a serviço da KGB. Dirigido por Trevor Numm, o filme traz Sophie Cookson e Judi Dench dando vida à genial Joan Stanley, uma caloura de física da Universidade de Cambridge, que se une a uma sociedade comunista estudantil no ano de 1938, mas, após mais 50 anos, é presa pelo MI5 acusada de fornecer informações confidenciais à Rússia.
A trama  tem um paralelo entre o presente e o passado de Joan e, logo de início, é possível embarcar na história que é contada de forma bastante fluida. Sem suspenses, A Espiã Vermelha expõe os fatos de maneira clara, mas com aquela forte carga dramática, que impulsiona todo o filme. Além do drama, o longa-metragem tem uma profunda pegada romântica que, felizmente, foge do clichê.
Joan é uma menina tímida e recatada que, ao ser convidada por Sonya (Tereza Srbova) para assistir a uma sessão de um filme, conhece Leo Galinch (Tom Hughes), um jovem comunista por quem se apaixona. Com imagens em primeiríssimo plano, é possível sentir a sintonia entre o casal. Contudo, um questionamento se faz: será que os sentimentos de Leo eram mesmo recíprocos à sua “doce camarada”, ou o que estava em jogo eram apenas os interesses ideológicos?

Após se formar, Joan consegue emprego num famoso laboratório onde ajuda a construir uma bomba atômica. Num ambiente majoritariamente masculino, era notório o desconforto da moça ao sugerir algo que nenhum homem ainda havia pensado, subtendendo-se que as mulheres ocupavam uma posição subalterna, sobretudo no campo intelectual. Mesmo vítima do machismo constante e convidada a manipular uma secadora de roupas, Joan era uma mulher com uma mente brilhante. Como ela mesma disse, viveu à sombra de um mundo masculino de modo invisível, porém poderosa.


Com cores variantes entre tons claros e escuros, a fotografia ficou perfeita e causou um belo impacto visual. Além disso, a escolha cuidadosa do figurino garantiu um toque de realidade à história que se pretendeu contar. O elenco, sem exceção, teve uma excelente atuação, houve entrega, houve vida, houve verdade em cada personagem. As grandiosas Sophie Cookson e Judi Dench, que protagonizaram a trama, foram perfeitas em cada expressão e detalhe.
Apesar de as cenas românticas entre Joan e Leo e, posteriormente, entre ela e Max (Stephen Campbell Moore) terem trazido um ar bem refrescante, o longa poderia ter dado mais profundidade à história de uma mulher que participou da construção da bomba atômica e “traiu” a própria pátria para proteger o mundo. Contudo, independentemente da forma que foi escolhida pra relatar a vida de uma mulher incrível e muito a frente do seu tempo, A Espiã Vermelha tem seu imenso valor.

Direção: Trevor Nunn  

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