Família ou trabalho: por que não os dois?
Com uma pequena dosagem de humor, mas repleto de temas relevantes
Numa época
não tão distante da que vivemos, os homens foram os provedores da casa, com
pouco tempo para a família e sem nenhuma dedicação às atividades
domésticas. Mas nunca sofreram pressões ou questionamentos por isso.
Já as mulheres assumiam de forma passiva aquele estereótipo que,
infelizmente, até hoje ainda perdura dentro de algumas cabeças: mãe em tempo
integral, zeladora do lar e do marido.
Quem a
assume a direção de De Pernas pro Ar 3 é Júlia Rezende
que traz importantes pontos para se pensar a respeito desse universo machista
que ainda nos assombra. Após viajar pelo mundo esbanjando sucesso, Alice (Ingrid
Guimarães) decide entregar a coroa à mãe (Denise Weinberg) para poder se
dedicar à família e tentar recuperar o tempo perdido.
A ausência
materna é trazida em concomitância à perda da identidade da protagonista que,
de uma hora pra outra, abdica de todo o controle do que conquistou para ser
apenas a mãe presente que leva a filha na escola e que tenta encontrar prazer
naquilo. A maternidade compulsória exige total perfeição com relação às
atitudes maternas, mas nenhuma mãe recebe o troféu de ‘mãezona’. Já o pai, como
foi o caso de João (Bruno Garcia), é chamado de paizão
por exercer a paternidade.
A mulher
moderna vive o terrível dilema: escolher entre família ou vida profissional.
Por que não poder ter os dois? Além disso, se ela ousa falar de sexo
abertamente, alguns homens pensam que é um convite para a cama. Júlia conseguiu
trabalhar bem em cima dessas corriqueiras situações. A competitividade e a
rivalidade feminina também estão presentes e permanecem um bom tempo, o que
torna o filme arrastado e cansativo.
Com o
avanço tecnológico, surgem novas tendências e, no “mercado do prazer”, não
poderia ser diferente. Leona (Samya Pascotto) é uma jovem
empreendedora que lança um novo produto sexual: óculos de realidade virtual. A
partir daí, Alice se sente ameaçada e a situação piora quando
a garota começa a namorar seu filho Paulinho (Eduardo Melo). A
competitividade pelo protagonismo no mercado e pelo espaço ocupado na vida do
filho ganha ponto de partida. Contudo, Leona é a representação
da mulher contemporânea que considera a rivalidade feminina ultrapassada.
Samya
Pascotto caminha com a segurança de uma veterana. Extrovertida e carismática,
merece total destaque por passar com total excelência pelo desafio. Suas
aparições não ofuscaram a maravilhosa Ingrid Guimarães, da qual não preciso nem
falar, mas sua presença foi marcante e digna de nota. A sintonia entre as duas
é perfeita e juntas dão um belo show.
De
Pernas pro Ar 3 não
é norteado por apelos sexuais e quem espera aquela comédia de
fazer morrer de rir, estará diante de uma comédia romântica ou até mesmo
de um verdadeiro drama. Os momentos de humor são raros, mas quando acontecem,
são autênticos. Apesar de alguns pesares, não se pode negar que o enredo girou
em torno de temáticas relevantes e, sobretudo, atuais.
Direção: Júlia
Rezende
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