quarta-feira, 3 de abril de 2019

Crítica: De Pernas pro Ar 3


 Família ou trabalho: por que não os dois?


Com uma pequena dosagem de humor, mas repleto de temas relevantes

Numa época não tão distante da que vivemos, os homens foram os provedores da casa, com pouco tempo para a família e sem nenhuma dedicação às atividades domésticas. Mas nunca sofreram pressões ou questionamentos por isso. Já as mulheres assumiam de forma passiva aquele estereótipo que, infelizmente, até hoje ainda perdura dentro de algumas cabeças: mãe em tempo integral, zeladora do lar e do marido.
Quem a assume a direção de De Pernas pro Ar 3 é Júlia Rezende que traz importantes pontos para se pensar a respeito desse universo machista que ainda nos assombra. Após viajar pelo mundo esbanjando sucesso, Alice (Ingrid Guimarães) decide entregar a coroa à mãe (Denise Weinberg) para poder se dedicar à família e tentar recuperar o tempo perdido.
A ausência materna é trazida em concomitância à perda da identidade da protagonista que, de uma hora pra outra, abdica de todo o controle do que conquistou para ser apenas a mãe presente que leva a filha na escola e que tenta encontrar prazer naquilo. A maternidade compulsória exige total perfeição com relação às atitudes maternas, mas nenhuma mãe recebe o troféu de ‘mãezona’. Já o pai, como foi o caso de João (Bruno Garcia), é chamado de paizão por exercer a paternidade.
A mulher moderna vive o terrível dilema: escolher entre família ou vida profissional. Por que não poder ter os dois? Além disso, se ela ousa falar de sexo abertamente, alguns homens pensam que é um convite para a cama. Júlia conseguiu trabalhar bem em cima dessas corriqueiras situações. A competitividade e a rivalidade feminina também estão presentes e permanecem um bom tempo, o que torna o filme arrastado e cansativo.
Com o avanço tecnológico, surgem novas tendências e, no “mercado do prazer”, não poderia ser diferente. Leona (Samya Pascotto) é uma jovem empreendedora que lança um novo produto sexual: óculos de realidade virtual. A partir daí, Alice se sente ameaçada e a situação piora quando a garota começa a namorar seu filho Paulinho (Eduardo Melo). A competitividade pelo protagonismo no mercado e pelo espaço ocupado na vida do filho ganha ponto de partida. Contudo, Leona é a representação da mulher contemporânea que considera a rivalidade feminina ultrapassada.
Samya Pascotto caminha com a segurança de uma veterana. Extrovertida e carismática, merece total destaque por passar com total excelência pelo desafio. Suas aparições não ofuscaram a maravilhosa Ingrid Guimarães, da qual não preciso nem falar, mas sua presença foi marcante e digna de nota. A sintonia entre as duas é perfeita e juntas dão um belo show.

De Pernas pro Ar 3 não é norteado por apelos sexuais e quem espera aquela comédia de fazer morrer de rir, estará diante de uma comédia romântica ou até mesmo de um verdadeiro drama. Os momentos de humor são raros, mas quando acontecem, são autênticos. Apesar de alguns pesares, não se pode negar que o enredo girou em torno de temáticas relevantes e, sobretudo, atuais.


Direção: Júlia Rezende


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