domingo, 9 de dezembro de 2018

Crítica: Tinta Bruta




A exposição do preconceito e suas marcas de forma crua


Divulgação Vitrine Filmes

Uma profunda reflexão sobre a homofobia



O longa nacional, com direção e roteiro de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, ganhou prêmios de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante pelo Festival do Rio, Prêmio Maguey for Best Film pelo Guadalajara IFF 2018 e Best International Narrative pelo Outfest Los Angeles 2018.

Tinta Bruta retrata a vida de Pedro (Shico Menegat), um jovem retraído socialmente, que responde a um processo criminal e que se apresenta para milhares de internautas com tintas neon espalhadas pelo corpo. Ele enfrenta a solidão ao ter que lidar com a ida de Luíza (Guega Peixoto), sua irmã, para o exterior a trabalho. Notoriamente, ela era a sua única e melhor amiga.
 O filme possui uma narrativa fluida e consegue deixar o espectador envolvido na trama, embora no começo ele pareça ser entediante. Tinta Bruta traz um interessante relato sobre a homofobia e a expõe de forma crua sem se preocupar com enredos mirabolantes sem verossimilhança. Tampouco, oculta  a violência física e psicológica das quais a comunidade LGBT é vítima. Contudo, é importante frisar que o filme não é recomendado para todos os públicos, pois contém muitas cenas de nudez explícita.


Divulgação Vitrine Filmes


Ele atende bem à proposta de mostrar as marcas e as consequências do preconceito, o medo, a angústia e os olhares de julgamento da sociedade que afetam cotidianamente os homossexuais. Os personagens Pedro e Léo (Bruno Fernandes) exprimem de forma perfeita como é o medo de sofrer agressão física. A indiferença da sociedade com relação à violência que atinge as minorias também é bem trabalhada.

Pedro faz uso da internet para minimizar a solidão e o medo que sente das pessoas reais. Para ele, o mundo virtual representa sua fuga e proteção. A hipocrisia e ausência de empatia também são pontos fortes. O mesmo público que lança olhares de reprovação para ele nas ruas, é o que consome seus vídeos na internet e, inclusive, paga para assistir aos shows artísticos e eróticos sem se importar com a sua orientação sexual.

A direção de arte merece destaque, pois além de ter construído um excelente cenário, as performances artísticas, chamadas de show pelo personagem principal, enfatizam o contraste da ausência de luz com as tintas neon, o que resulta em um belíssimo show artístico de cores. Há também a presença da câmera amadora, que mostra como os garotos são vistos na internet e dá um toque a mais de realidade, o que faz o espectador se sentir como parte  do público de Pedro.
Em cenas de violência, a coloração predominante era escura e contribuiu para a atmosfera tensa ao provocar empatia no espectador. Músicas eletrônicas integram a trilha sonora e complementam as performances, dando um show à parte. 
Em suma, Tinta Bruta é um filme que se preocupa em mostrar as consequências da homofobia e como ela afeta aqueles que diariamente sentem na pele a dor provocada pela intolerância. Não se trata apenas um filme para entreter, é uma obra para refletir.

Direção: Filipe Matzembacher e Marcio Reolon



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