quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Crítica: O Beijo no Asfalto


Adaptação de O Beijo no Asfalto marca a estreia de Murilo Benício como diretor

Divulgação ArtHouse

Fernanda Montenegro, Stênio Garcia, Lázaro Ramos e Débora Falabela compõem o elenco


A obra se trata de uma adaptação da peça “O Beijo no Asfalto”, do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, que se passa no Rio de Janeiro da década de 60. Arandir (Lázaro Ramos) presencia o atropelamento de um homem por um lotação e o beija na boca antes de ele morrer. Enquanto isso, um grupo de curiosos à sua volta testemunha o ocorrido.
Uma das testemunhas, o repórter Amado Ribeiro (Otávio Müller), conta ao delegado corrupto Cunha (Augusto Madeira) o acontecido e os dois resolvem investigar juntos.  Arandir, que é casado com Selminha (Débora Falabella), irmã de Dália (Luiza Tiso) e filha de Aprígio (Stênio Garcia), tem então sua vida drasticamente mudada pelo interrogatório incessante da polícia e pelas variadas manchetes que ganha no jornal devido ao acontecimento.
O filme, assim como a peça de Nelson Rodrigues, expõe a hipocrisia da sociedade da época. Devido ao conservadorismo, o beijo dado no asfalto roubou a cena ao passo que o atropelamento do homem misterioso não teve tanta relevância. Com relação à fotografia, as cores preta e branca nos permitem mergulhar no cinema antigo e, além disso, a divisão de três atos que acontece, remete-nos ao teatro.

Divulgação ArtHouse
A adaptação faz uso do próprio cinema para mostrar ao espectador o que acontece nos bastidores pelo recurso da metalinguagem. O ensaio das falas, as conversas sobre a construção de personagens e a montagem do cenário tiveram o propósito de passar para o público a experiência da criação de um filme dentro dele mesmo. No entanto, torna-se um pouco cansativo pois interrompe, de certa forma, o raciocínio do público e quebra o andamento da história para mostrar as interpretações dos atores de diferentes panoramas e reuniões do elenco com a produção. Fernanda Montenegro rouba a cena ao dar vida à Dona Matilde. No entanto, seu maior destaque no longa é dado pela atriz consagrada que é.
Divulgação ArtHouse

O longa se mostra uma boa adaptação de estreia, mas fez uso de um caminho um tanto perigoso que pode provocar tédio e cansaço em quem não está acostumado com esse formato de filme. Através de excelentes atuações e de um profundo mergulho no cinema e no teatro, o longa foi ousado na homenagem ao autor Nelson Rodrigues.
O Beijo no Asfalto não é um filme que tende a agradar a todos os públicos, pois aquele que espera assistir a uma narrativa dentro dos moldes tradicionais, irá se decepcionar. Porém, quem assiste com um olhar mais sensível e se dispõe a compreender o verdadeiro propósito da obra, se encanta.
Diretor: Murilo Benício


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